Ontem, voltando do norte, depois de uma semana com toda a família Israel reunida, fiquei observando a vista pela janela do carro.
Me peguei pensando em como seria voltar pra rotina, que de igual não teria nada.
Fiquei lembrando, quando ainda não tinha saído de Yerushalaim, o que sentia quando passava por tantos lugares que me traziam lembranças tão fortes e tão presentes, e o quanto isso me doía.
Foi então, que olhando pra construções no meio da estrada, me perguntei... Será que alguém, quando passa por aqui, olha pra algum prédio ou qualquer outro lugar, e lembra de momentos que viveu ali com alguém que não está mais?
Será que a esposa do pedreiro que ajudou a por essa casa de pé, ainda tem o seu companheiro?
Por quantos lugares caminhamos e não sabemos que ali aconteceu uma história linda? Quantas lembranças um simples banco no meio da praça pode trazer pra alguém? Como a vendedora daquela loja reagiria se soubesse que aquele cliente nunca mais vai fazer encomendas? E o porteiro que sempre via aquele casal sentado ali na frente, conversando, será que algum dia vai saber que o casal hoje é só um sem seu par?
Eu nunca tinha entendido de verdade a dor de alguém diante de uma situação dessas. Antes, falar de morte, pra mim, era totalmente diferente.
A gente sempre vê em filmes, a família acabada, finalmente sem a maquiagem pra dar aquele ar de sofrimento. Vemos a agonia, vemos as lágrimas.
Até mesmo na vida real, quando acontece de uma pessoa que você nada mais conhecia de nome, se vai, você não tem nem como medir o tamanho da dor que essa ida causa nos mais próximos.
Nem me dou ao trabalho de contar a quantidade de mishmarot que eu já ajudei a minha mãe a servir. Quantas vezes fui indiferente, sem querer ser, por saber que a minha mãe levantou mais cedo um dia, e largou tudo pra ir cuidar de um corpo recém falecido. Eu simplesmente não sabia o que hoje eu sei.
A Torá é definitivamente sábia quando diz: Nunca julgue o próximo até estar no lugar dele.
Aqui não discutimos o julgamento. Discutimos o sentimento.
O sentimento que nem explicar eu consigo, somente conheço. Só sei,
Talvez seja uma mistura de muitos sentimentos, e entre eles, aquela frustração.
Frustração de não poder fazer nada pra mudar a situação. Da incapaciadade de voltar no tempo e dizer algumas palavras que hoje você tem desespero em falar. Sentimento de "Devia ter aproveitado mais o tempo com ele" mesmo sabendo que você aproveitou, e muito. Mas hoje parece não ter sido suficiente. E diante da situação que se encontra, de fato não foi suficiente, porque você sente saudade. E como sente...
Só hoje eu posso reconhecer de verdade a dor daqueles que perderam alguém. Reconhecer e dar o real valor ao que a minha mãe, como tantos outros, se dispõe a fazer por aqueles que se foram, e por aqueles que continuam, mas que nem forças tem.
É então que a gente percebe que a nossa vida continua, querendo ou não, e que o tempo não vai parar pra que você conserte o seu coração. Ao contrário. Ele vai passando, e aos pouquinhos, vai levando com ele um pouco da dor, como se fosse um cobrador de aluguel diário que não aceita fiado. E você fica desnorteado, porque, ao mesmo tempo que você precisa superar, você ainda tá falando "Calma aí! Eu ainda não tô 100% recuperado! Não tô pronto!". Mas quem disse que alguém te pergunta?
E então você começa a reagir, como pode, de acordo com o que vai acontecendo...
Por que decidi falar disso?
Porque hoje escutei uma música, que há um tempo atrás adorava, achava linda, escutava, e cantava junto.
Eu só me esqueci que eu não sou mais a mesma que escutou da última vez... porque dessa vez, a música tocou numa área que, infelizmente, se tornou tão conhecida pra mim...
Sabe o que diz a música?
"E quando eu estiver triste, simplesmente me abrace. Quando eu estiver louco, subitamente se afaste (...) mas quando eu estiver morto, suplico que não me mate dentro de ti"
Foi quando eu parei, me olhei no espelho, e senti aquela dor, de novo e outra vez, e mesmo massageando o coração, não passou tão fácil.
Confesso que chega a ser até engraçado, ou quem sabe seja até ironico, tantas músicas que falam de morte, que não afetam em nada quem nunca lidou com isso, mas que pros que ainda sofrem, faz uma bagunça.
Decidi mudar de música.
Por mais que eu saiba que ele, eu jamais tire do meu coração, não preciso escutar isso pra me lembrar. Não preciso escutar sobre morte. De nenhum tipo. Ele com certeza não quer que eu me maltrate assim.
O Dani deixou muitas lições pra mim, e eu precisei de muita ajuda pra enxergar isso no meio de tanta saudade.
É aqui que eu deixo meu mais sincero agradecimento a Hashem, por me mandar pessoas e me mandar as palavras que eu precisava escutar, e que não iam sair da boca do Dani.
A cada dia eu me fortaleço com o exemplo que ele deixou.
Exemplo de persistencia, de determinação, de coragem, e principalmente, de dignidade.
Eu nunca conheci alguém com tanta moral, com tantos principios, e que de fato era fiel a eles. Não como tantos que falam falam e falam, mas nos atos, a gente até nem reconhece.
Ele me ensinou a enfrentar o que D-s põe na nossa vida. A não ter medo. A confiar e fazer a nossa parte. Me ensinou a crescer. E eu tô tentando fazer a lição de casa.
Ontem, pude conversar com o Rav de quem o Dani sempre comentava comigo, e do quanto gostava dele.
Esse rav me disse: "O Daniel era especial, e ele me contou de você. Ele me disse que tinha encontrado uma amiga. Não uma mulher, ou uma paquera. Mas uma amiga, com quem ele gostava de conversar, que escutava ele, que fazia muito bem pra ele. Ele me disse isso algumas vezes, e eu percebia que realmente fazia bem."
Até esse momento, eu tinha sofrido por pensar que eu só tinha recebido do Dani. Que eu não tinha ajudado em nada, e que eu podia ter feito mais por ele, e até dito mais.
E foi então que mesmo não tando aqui, ele me confortou. Me deixando um recado, dizendo que eu fui uma amiga, que fui útil. E saber que eu fui pra ele tão amiga quanto ele foi um amigo pra mim, não tem preço, não tem tempo e nem distância que enfraqueça.
Eu ainda sinto dores, o coração as vezes pesa muito, e eu sei que não vai passar tão fácil nem tão rápido. Talvez até me faça cair um pouco e talvez eu continue tendo crises de choro que eu não consegui segurar.
Mas eu também sei que durante o meu dia, de repente, dou um sorriso olhando pro nada, ou uma gargalhada lembrando de uma piada que ele me contou, ou de uma coisa específica que só ele tinha; Eu pouco me importo de ser chamada de maluca se alguém me pega no meio de uma conversa minha com o Dani, e me escute chamando aquele palhaço de "bocó", ou falando o quanto eu sinto saudade e que tá difícil;
Na verdade, eu nunca vou esquecer que naquele dia de tanta dor, Hashem mandou um dia lindo, com um Pôr-do-Sol de tirar o fôlego, e com uma Lua-Cheia super iluminada.
E que até naquele dia, eu ainda tava aprendendo que mesmo cheios de dor, precisamos olhar pra cima, Porque o nosso pai lá em cima, tá sempre olhando pra gente.
(Dani, eu to com saudade. Você continua fazendo falta.)
PS: Tirei essa foto um dia chegando na casa dele. Sabe o que ele disse quando viu?
"Eu tenho isso todos os dias no meu terraço."
2 comentários:
Love in the Afternoon Legião Urbana
É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora
Cedo demais.
Quando eu lhe dizia:
"- Me apaixono todo dia
E é sempre a pessoa errada."
Você sorriu e disse:
"- Eu gosto de você também."
Só que você foi embora cedo demais
Eu continuo aqui,
Com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
Um dia de chuva, um dia de sol
E o que sinto não sei dizer.
Vai com os anjos! vai em paz.
Era assim todo dia de tarde
A descoberta da amizade
Até a próxima vez.
É tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você
E de tanta gente que se foi
Cedo demais
E cedo demais
Eu aprendi a ter tudo o que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu, que tive um começo feliz
Do resto não sei dizer.
Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre mais eu sei
Que você está bem agora
Só que este ano
O verão acabou
Cedo demais.
Que vc acalme o seu coração!
A gente tem que entender que na verdade não é que foi insuficiente ou pensar que a gente não deu valor para o tempo que dedicamos aquela pessoa e poderíamos ter "feito mais!!", "estado mais!" ou "falado mais!"
mas a dor vem daquele lugar que diz: "não poderemos dizer mais!" pois damos tudo de nós na nossa vida o tempo todo tentamos sempre fazer o melhor que está ao nosso alcance a cada momento, tudo na vida faz parte dela senão não aconteceria!!
E temos que aprender a tirar o bom de cada lição, devagar e cada um ao seu ritmo saberá a reservar para cada momento marcante sendo os bons sendo os menos o seu lugar sem que um atrapalhe o outro.
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