quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Daniel Itzhak ben Avraham Z''L''


É complicado falar de uma relação que era praticamente um segredo.
De uma amizade tão inesperada, e ao mesmo tempo, que se tornou tão forte e tão necessária.
A partir do momento que uma pessoa se torna indispensável, jamais podemos imaginar nossa vida sem ela.
Eu não poderia me imaginar sem ele, nunca, mas por alguma razão que tá fora da minha compreensão, ele se foi, e eu fiquei.
Fiquei com um buraco nos meus dias.
Fiquei com um vazio tão silencioso no meu coração que mesmo que eu berrasse, ninguem escutaria. Ninguém responderia.
Sabe aquela pessoa, que basta a presença pra todo ambiente mudar pra melhor?
Sabe aquela pessoa que basta a companhia dela pra você sentir que nada pode te afetar? Mesmo que na sua frente venha uma gangue de garotos mal encarados, ninguém se atreveria a se meter com ele. E ele tava ali, olhando por mim, me protegendo.
Aquela pessoa que te escuta e tem as palavras que você precisa escutar, e que realmente te ajudam a levantar.
E até quando você não está de acordo com o que ele fala, isso não enfraquece nem 1% dos laços que ja estão tão fortes.
Quantas vezes eu olhava toda a minha lista telefonica, e quando chegava no nome dele, eu sentia que podia ligar, que podia contar... que podia.
E assim foi se tornando parte dos meus dias. Foi se tornando o complemento deles.
Pra cada tempo livre, pra cada noite sem programação. Até que o celular só vibrava quando era ele.
E saber que eu era a pessoa mais próxima dele também. Que era mútuo.
E quando o assunto nunca acabava, porque antes de se completar já entrava outro assunto, e lá pelo meio ele se perguntava: "Porque eu comecei a falar disso?", e lá ia a retrospectiva dos assuntos.
As piadas que o tempo todo saiam da boca dele, tão natural, e eu não aguentava de tanto rir.
Todos os talentos que eu descobria que ele tinha, e os segredos que ele me contava...
O único que podia realmente saber o que eu sentia no meu mais profundo, e me dizia: "Vai, conta pra mim o que tem nessa cabecinha".
O único que podia me chamar de "Palhaça" quantas vezes quisesse, que pra mim ia soar sempre como um elogio, e tiraria um sorriso sem graça do meu rosto.
E que, quando ele ficava sem graça, de repente eu via naquele olhar um menino de 10 anos todo desconsertado.
Ele simplesmente era indispensável pra mim, por mais que ele fosse tão independente, eu nem percebi o quanto eu me tornei dependente dele.
Poderia acontecer uma desgraça, que ele estaria do meu lado, me dando força, me ajudando. E eu sei que ele deve estar cobrando isso de mim agora, e mesmo que eu não seja tão forte, eu tô tentando aguentar.
Eu até me sinto egoísta, falando o quanto ele me fazia bem, mas talvez eu esteja desabafando por que eu não tive tempo de dizer tudo isso pra ele. E ele merecia saber, por tantas vezes que ele me falou que eu era mais especial do que eu imaginava, que na verdade, ele era muito mais especial pra mim do que ele poderia imaginar.

Foi tão difícil ver aquele corpo grande, tão forte, tão protetor, simplesmente sem vida...
Subiu um desespero de correr até lá e falar no ouvido dele: "Dani! Levanta agora! Não tem graça! Não gostei dessa piada!"
Não conseguia respirar, eu queria ver ele pela última vez, mas ao mesmo tempo eu não conseguia uma vista limpa, as lágrimas embaçavam tudo, meu corpo não conseguia mais ficar em pé, porque a minha força tinha ido embora, eu tava sem meu apoio, eu tava sem o meu amigo, ele tava lá, mas não tava! Se eu pudesse ter o poder de Adam, eu daria alguns anos da minha vida pra ter ele mais tempo comigo, vivo, de pé novamente, sendo o mesmo Dani de sempre.

E agora, o que ficou foi um cenário incompleto. Um jogo de cartas sem um nipe. Uma bicicleta sem as rodinhas, que uma garotinha está sendo forçada a aprender a andar.

Hoje faz uma semana da última vez que a gente se viu. Da última vez que a gente saiu pra tomar um sorvete e passear na Taielet.
Amanhã vai fazer uma semana da última vez que eu recebi uma mensagem dele no meu celular, e da última vez que escutei a voz dele por telefone.

E assim o tempo continua passando, e sinto que vai me roubando as lembranças que eu tenho, que ontem eram mais fortes que hoje.
E cada dia que eu acordo, abro os olhos, e sou forçada a aceitar mais um pouco que o que eu vivi, não vou viver de novo.
E ao mesmo tempo, sinto que ele pode escutar tudo o que eu falo, ver tudo o que eu faço, e presenciar todas as minhas crises de choro.
Ver que minha expressão muda do nada, no meio de uma conversa, e eu viajo pra outro mundo, no qual ele fazia total diferença. E eu sinto falta dele vir me falar: "Vai, conta pra mim o que tem nessa cabecinha"

Eu ainda sinto ele aqui comigo. Ainda sinto um abraço forte quando me deito pra dormir. Ainda sinto a presença dele e imagino todas as piadas que ele faria em cada situação.
Na minha cabeça ainda escuto a voz dele, com aquele tom sério-engraçado falando "Sua palhaça"

Ele sempre me contrariava, quando eu dizia: "Querer não é poder." "Não senhora! Querer é poder sim! É só querer de verdade."

E no final, ele tava certo. Como quase sempre.
Porque o que eu mais quero, do fundo do meu coração, é ele do meu lado.
E por mais que eu não possa ver de novo os olhos dele, por mais que eu não possa mais ver o riso de canto de boca, que fazia a maçã do rosto dele ressaltar, por mais que eu não coma mais a comida natureba que ele fazia, e por mais que eu não possa mais fazer parte de um olhar de cúmplices, ele de fato está...

...aqui dentro. E mais perto que isso, só ele mesmo poderia conseguir.

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