sábado, 28 de março de 2015

Deixem em paz nossos momentos


Nada é tão lindo quanto a chegada de um neném na família.
A felicidade é tão grande que nossa vontade é mostrar ao mundo inteiro como estamos alegres com essas novas experiências, e o que não faltam são meios para expor tudo isso.
Não vejo muitos pontos negativos em fazer isso, mas um deles me intriga e me incomoda mais do que o normal.
Lá está você, tirando fotos do seu mais novo membro da família, e decide postar na internet sobre o quanto maravilhoso é ser pai/mãe, se orgulhando do que seu filho acabou de aprender a fazer ou de como você ficou feliz por ele estar interagindo mais com o ambiente.
Eis que chega o estraga emoções e deixa aquele lindo comentário, com aquela típica frase que só eles adoram falar: Ah, mas você não viu nada ainda, espere daqui um tempo, que aí sim, você vai ver...
Sou só eu que sente um balde de água fria cair na cabeça?  Ok, darei mais um exemplo.
Lá está a mãe, feliz da vida, carregando seu primogênito na barriga, comentando que esta um pouco cansada e que precisa descansar. Eis que chega a boca grande do bendito ser estraga momentos com a belíssima frase: Ah, aproveita pra descansar tudo que tiver pra descansar agora, antes do bebe nascer, porque depois, minha querida, você não vai ter sossego.
Sou apenas eu que poderia dormir sem essa?
A grande questão que eu quero abordar aqui é: Por que as pessoas que já passaram pela paternidade/maternidade não podem segurar suas línguas e deixar que vivamos nossos momentos como se fossem únicos?
Durante minha gravidez, eu não parei de ouvir pessoas dizendo para eu aproveitar minha cama, minhas noites, minha “independência” antes do neném nascer e tirar minhas horas de sono, minhas noites bem dormidas e minha cama só pra mim.
Quando ela nasceu e era uma miniatura de gente no berçário, me disseram: Aqui eles são uns anjinhos, mas quando chegam em casa, ai ai ai, aí sim começa o berreiro.
Quando ia aos eventos sociais com ela no colo e dizia que ela não me dava muito trabalho, as pessoas diziam: Espera só quando começar a engatinhar... você vai sentir saudades dessa época.
Quando tive a infeliz ideia de postar meu orgulho por ela já estar engatinhando, o que mais choveu de comentários foi: Aaaaah, quando ela começar a andar o sufoco vai começar.
Não vou seguir com meus exemplos pessoais, pois são muitos e quero terminar este texto ainda hoje.
É tão gostoso ver a vida se renovando, ver nossa vida acontecer, nossa família aumentar. Mas eu não entendo essa necessidade das pessoas, mesmo que inconscientemente, desvalorizarem nossos pequenos grandes primeiros momentos.
Sempre pensam que nós, pais de primeira viajem, não sabemos de nada. Ainda temos muito a aprender. E isso é, em parte, verdade. E insistem em deixar isso claro.
Mas, porque estragar momentos preciosos que jamais serão revividos, por nós, pais de primeira viajem? Por que desmerecer nossos esforços, nossos brilhos nos olhos ao contemplar uma peripécia do nosso pequeno ser.
Não pretendo ser rude, nem generalizar. Sei que a maioria das pessoas que falam isso não o faz por maldade, mas sim, com a intenção de ajudar. Mas gostaria de lhes dar essa nova perspectiva.
Todas as vezes que esses comentários surgiram para mim, eu estava tão feliz com os meus momentos que não me importei com eles, sequer vi mal algum. Mas vendo isso acontecer com amigos próximos, me incomodou e me abriu os olhos. Todos esses comentários tem o poder de tirar um pouquinho do brilho e fazer com que as experiências sejam apenas mais uma. Que não sejam tão únicas quanto pra uma mãe é.
Se ao invés dessas frases não bem vidas, as pessoas apenas falassem: Uau, que lindo! Aproveita cada momento. Ou: Deve estar sendo uma emoção muito grande, estou feliz por vocês.
Chega de: Aproveita que passa rápido!
Nós, pais, não estamos prontos pra essa realidade, de que passa rápido. Deixem que nós descubramos por nós mesmos. Deixem nossos momentos em paz.
Nós, mães, não queremos conselhos se não pedimos por eles. Não queremos sugestões sem que busquemos por elas.
Meu único pedido é: Deixem nossos momentos serem únicos. E caso, eventualmente, sentemos para conversar sobre a vida, poderemos compartilhar nossas experiências. Caso contrário, seria pedir demais que apenas ficassem felizes por nós?


Por Melida Fiszbein

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