Desde que voltei de Israel, não tinha tido a oportunidade de sentir minha família maior reunida.
Não digo de pais e irmãos. Falo de tios, tias, primos, avós, tias avós, tios avôs, vizinhos, velhinhos, carinhos.
Hoje, na casa da minha vó, festejou-se os 69 anos de vida dessa pessoa mais amada do mundo.
Mas o que me fascinou foi a quantidade de cabeças brancas que povoavam a sala, aquelas pessoas cujas rugas denunciavam décadas e décadas de vida, quase um século.
Não consegui não notar, e alguma coisa aqui dentro queria me manter perto dessas senhoras, que mesmo sendo minha família, eu nunca nem tinha realmente conversado sobre alguma coisa.
Um dos meus melhores hobbies é sentar uma tarde inteirinha com a minha vó e escutar todas aquelas histórias, que mesmo já conhecidas, adoro escutar de novo, porque só ela sabe contar desse jeitinho tão detalhado e tão seguro.
Resolvi me sentar ao lado da minha bisavó e da irmã dela.
Minha bisa já não escuta de um ouvido e já não enxerga como deveria. E sentada ao seu lado, eu olhava para sua pele, para suas mãos, seus dedos gordinhos, e eu fiquei bem tentada a ficar fazendo carinho, como sempre faço com a minha avó, mas infelizmente, não tenho intimidade suficiente pra isso. Mais tarde foi até bom, porque ela reclamou que tava com dor nos braços e nas mãos, se eu começasse a apertar não daria certo.
A irmã dela, sentada ao lado, tá bem inteira. Magrinha, com a sua bengala, e com os olhos azuis funcionando muito bem.
Mas houve um detalhe que me surpreendeu: Em todos os meus quase 22 anos de vida, nunca tinha percebido o quanto ela é risonha. O quanto os olhos dela transmitem uma bondade tão relaxante, e o quanto eu queria poder saber mais sobre a vida dela.
Percebi que todas as velhinhas da sala tinham o mesmo comportamento.
Chegavam, escolhiam sua cadeira, e pá. Ficavam sentadas ali atééééé... E o mais engraçado foi escutar a conversa das duas. Imaginei décadas atrás, quando as duas ficavam fofocando sobre coisas da vida, e qual não foi minha surpresa quando percebi que essas senhoras mais outras se comunicavam sempre pelo telefone, uma coisa já tão rara hoje em dia.
E é aí que eu me pego pensando o que será da humanidade quando já não puderem mais usar internet pela visão corrompida pela idade? Quem vai fazer companhia pra quem?
Essas senhoras se acostumaram a ter contato de verdade com as pessoas, com os amigos, e isso não se perdeu. E a gente que se relaciona mais com o computador do que com as pessoas ao vivo? Mas essa já é uma discussão para outra prosa.
E me surgiu um pensamento mais urgente na cabeça de que um dia eu terei essa idade, e não sei se meus bisnetos sentarão ao meu lado como eu sentei ao lado delas. Não sei como estará minha saúde, meu humor, minha vida, e se vou ter orgulho do caminho que percorri.
Simplesmente me vi ali sentada, com saúde, no início da vida, imaginando se o tempo não passaria realmente voando.
Essa noite me fez pensar mais sobre o futuro.
Mas afinal, o que queremos do futuro?
Um comentário:
sinceramente, eu penso nisso todo dia...
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