segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Saudade é o amor que fica.

Ontem, voltando do norte, depois de uma semana com toda a família Israel reunida, fiquei observando a vista pela janela do carro.
Me peguei pensando em como seria voltar pra rotina, que de igual não teria nada.
Fiquei lembrando, quando ainda não tinha saído de Yerushalaim, o que sentia quando passava por tantos lugares que me traziam lembranças tão fortes e tão presentes, e o quanto isso me doía.
Foi então, que olhando pra construções no meio da estrada, me perguntei... Será que alguém, quando passa por aqui, olha pra algum prédio ou qualquer outro lugar, e lembra de momentos que viveu ali com alguém que não está mais?
Será que a esposa do pedreiro que ajudou a por essa casa de pé, ainda tem o seu companheiro?
Por quantos lugares caminhamos e não sabemos que ali aconteceu uma história linda? Quantas lembranças um simples banco no meio da praça pode trazer pra alguém? Como a vendedora daquela loja reagiria se soubesse que aquele cliente nunca mais vai fazer encomendas? E o porteiro que sempre via aquele casal sentado ali na frente, conversando, será que algum dia vai saber que o casal hoje é só um sem seu par?
Eu nunca tinha entendido de verdade a dor de alguém diante de uma situação dessas. Antes, falar de morte, pra mim, era totalmente diferente.
A gente sempre vê em filmes, a família acabada, finalmente sem a maquiagem pra dar aquele ar de sofrimento. Vemos a agonia, vemos as lágrimas.
Até mesmo na vida real, quando acontece de uma pessoa que você nada mais conhecia de nome, se vai, você não tem nem como medir o tamanho da dor que essa ida causa nos mais próximos.
Nem me dou ao trabalho de contar a quantidade de mishmarot que eu já ajudei a minha mãe a servir. Quantas vezes fui indiferente, sem querer ser, por saber que a minha mãe levantou mais cedo um dia, e largou tudo pra ir cuidar de um corpo recém falecido. Eu simplesmente não sabia o que hoje eu sei.
A Torá é definitivamente sábia quando diz: Nunca julgue o próximo até estar no lugar dele.
Aqui não discutimos o julgamento. Discutimos o sentimento.
O sentimento que nem explicar eu consigo, somente conheço. Só sei,
Talvez seja uma mistura de muitos sentimentos, e entre eles, aquela frustração.
Frustração de não poder fazer nada pra mudar a situação. Da incapaciadade de voltar no tempo e dizer algumas palavras que hoje você tem desespero em falar. Sentimento de "Devia ter aproveitado mais o tempo com ele" mesmo sabendo que você aproveitou, e muito. Mas hoje parece não ter sido suficiente. E diante da situação que se encontra, de fato não foi suficiente, porque você sente saudade. E como sente...
Só hoje eu posso reconhecer de verdade a dor daqueles que perderam alguém. Reconhecer e dar o real valor ao que a minha mãe, como tantos outros, se dispõe a fazer por aqueles que se foram, e por aqueles que continuam, mas que nem forças tem.

É então que a gente percebe que a nossa vida continua, querendo ou não, e que o tempo não vai parar pra que você conserte o seu coração. Ao contrário. Ele vai passando, e aos pouquinhos, vai levando com ele um pouco da dor, como se fosse um cobrador de aluguel diário que não aceita fiado. E você fica desnorteado, porque, ao mesmo tempo que você precisa superar, você ainda tá falando "Calma aí! Eu ainda não tô 100% recuperado! Não tô pronto!". Mas quem disse que alguém te pergunta?
E então você começa a reagir, como pode, de acordo com o que vai acontecendo...

Por que decidi falar disso?
Porque hoje escutei uma música, que há um tempo atrás adorava, achava linda, escutava, e cantava junto.
Eu só me esqueci que eu não sou mais a mesma que escutou da última vez... porque dessa vez, a música tocou numa área que, infelizmente, se tornou tão conhecida pra mim...
Sabe o que diz a música?
"E quando eu estiver triste, simplesmente me abrace. Quando eu estiver louco, subitamente se afaste (...) mas quando eu estiver morto, suplico que não me mate dentro de ti"
Foi quando eu parei, me olhei no espelho, e senti aquela dor, de novo e outra vez, e mesmo massageando o coração, não passou tão fácil.
Confesso que chega a ser até engraçado, ou quem sabe seja até ironico, tantas músicas que falam de morte, que não afetam em nada quem nunca lidou com isso, mas que pros que ainda sofrem, faz uma bagunça.
Decidi mudar de música.
Por mais que eu saiba que ele, eu jamais tire do meu coração, não preciso escutar isso pra me lembrar. Não preciso escutar sobre morte. De nenhum tipo. Ele com certeza não quer que eu me maltrate assim.
O Dani deixou muitas lições pra mim, e eu precisei de muita ajuda pra enxergar isso no meio de tanta saudade.
É aqui que eu deixo meu mais sincero agradecimento a Hashem, por me mandar pessoas e me mandar as palavras que eu precisava escutar, e que não iam sair da boca do Dani.

A cada dia eu me fortaleço com o exemplo que ele deixou.
Exemplo de persistencia, de determinação, de coragem, e principalmente, de dignidade.
Eu nunca conheci alguém com tanta moral, com tantos principios, e que de fato era fiel a eles. Não como tantos que falam falam e falam, mas nos atos, a gente até nem reconhece.
Ele me ensinou a enfrentar o que D-s põe na nossa vida. A não ter medo. A confiar e fazer a nossa parte. Me ensinou a crescer. E eu tô tentando fazer a lição de casa.

Ontem, pude conversar com o Rav de quem o Dani sempre comentava comigo, e do quanto gostava dele.
Esse rav me disse: "O Daniel era especial, e ele me contou de você. Ele me disse que tinha encontrado uma amiga. Não uma mulher, ou uma paquera. Mas uma amiga, com quem ele gostava de conversar, que escutava ele, que fazia muito bem pra ele. Ele me disse isso algumas vezes, e eu percebia que realmente fazia bem."
Até esse momento, eu tinha sofrido por pensar que eu só tinha recebido do Dani. Que eu não tinha ajudado em nada, e que eu podia ter feito mais por ele, e até dito mais.
E foi então que mesmo não tando aqui, ele me confortou. Me deixando um recado, dizendo que eu fui uma amiga, que fui útil. E saber que eu fui pra ele tão amiga quanto ele foi um amigo pra mim, não tem preço, não tem tempo e nem distância que enfraqueça.

Eu ainda sinto dores, o coração as vezes pesa muito, e eu sei que não vai passar tão fácil nem tão rápido. Talvez até me faça cair um pouco e talvez eu continue tendo crises de choro que eu não consegui segurar.
Mas eu também sei que durante o meu dia, de repente, dou um sorriso olhando pro nada, ou uma gargalhada lembrando de uma piada que ele me contou, ou de uma coisa específica que só ele tinha; Eu pouco me importo de ser chamada de maluca se alguém me pega no meio de uma conversa minha com o Dani, e me escute chamando aquele palhaço de "bocó", ou falando o quanto eu sinto saudade e que tá difícil;
Na verdade, eu nunca vou esquecer que naquele dia de tanta dor, Hashem mandou um dia lindo, com um Pôr-do-Sol de tirar o fôlego, e com uma Lua-Cheia super iluminada.
E que até naquele dia, eu ainda tava aprendendo que mesmo cheios de dor, precisamos olhar pra cima, Porque o nosso pai lá em cima, tá sempre olhando pra gente.

(Dani, eu to com saudade. Você continua fazendo falta.)
PS: Tirei essa foto um dia chegando na casa dele. Sabe o que ele disse quando viu?
"Eu tenho isso todos os dias no meu terraço."

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Daniel Itzhak ben Avraham Z''L''


É complicado falar de uma relação que era praticamente um segredo.
De uma amizade tão inesperada, e ao mesmo tempo, que se tornou tão forte e tão necessária.
A partir do momento que uma pessoa se torna indispensável, jamais podemos imaginar nossa vida sem ela.
Eu não poderia me imaginar sem ele, nunca, mas por alguma razão que tá fora da minha compreensão, ele se foi, e eu fiquei.
Fiquei com um buraco nos meus dias.
Fiquei com um vazio tão silencioso no meu coração que mesmo que eu berrasse, ninguem escutaria. Ninguém responderia.
Sabe aquela pessoa, que basta a presença pra todo ambiente mudar pra melhor?
Sabe aquela pessoa que basta a companhia dela pra você sentir que nada pode te afetar? Mesmo que na sua frente venha uma gangue de garotos mal encarados, ninguém se atreveria a se meter com ele. E ele tava ali, olhando por mim, me protegendo.
Aquela pessoa que te escuta e tem as palavras que você precisa escutar, e que realmente te ajudam a levantar.
E até quando você não está de acordo com o que ele fala, isso não enfraquece nem 1% dos laços que ja estão tão fortes.
Quantas vezes eu olhava toda a minha lista telefonica, e quando chegava no nome dele, eu sentia que podia ligar, que podia contar... que podia.
E assim foi se tornando parte dos meus dias. Foi se tornando o complemento deles.
Pra cada tempo livre, pra cada noite sem programação. Até que o celular só vibrava quando era ele.
E saber que eu era a pessoa mais próxima dele também. Que era mútuo.
E quando o assunto nunca acabava, porque antes de se completar já entrava outro assunto, e lá pelo meio ele se perguntava: "Porque eu comecei a falar disso?", e lá ia a retrospectiva dos assuntos.
As piadas que o tempo todo saiam da boca dele, tão natural, e eu não aguentava de tanto rir.
Todos os talentos que eu descobria que ele tinha, e os segredos que ele me contava...
O único que podia realmente saber o que eu sentia no meu mais profundo, e me dizia: "Vai, conta pra mim o que tem nessa cabecinha".
O único que podia me chamar de "Palhaça" quantas vezes quisesse, que pra mim ia soar sempre como um elogio, e tiraria um sorriso sem graça do meu rosto.
E que, quando ele ficava sem graça, de repente eu via naquele olhar um menino de 10 anos todo desconsertado.
Ele simplesmente era indispensável pra mim, por mais que ele fosse tão independente, eu nem percebi o quanto eu me tornei dependente dele.
Poderia acontecer uma desgraça, que ele estaria do meu lado, me dando força, me ajudando. E eu sei que ele deve estar cobrando isso de mim agora, e mesmo que eu não seja tão forte, eu tô tentando aguentar.
Eu até me sinto egoísta, falando o quanto ele me fazia bem, mas talvez eu esteja desabafando por que eu não tive tempo de dizer tudo isso pra ele. E ele merecia saber, por tantas vezes que ele me falou que eu era mais especial do que eu imaginava, que na verdade, ele era muito mais especial pra mim do que ele poderia imaginar.

Foi tão difícil ver aquele corpo grande, tão forte, tão protetor, simplesmente sem vida...
Subiu um desespero de correr até lá e falar no ouvido dele: "Dani! Levanta agora! Não tem graça! Não gostei dessa piada!"
Não conseguia respirar, eu queria ver ele pela última vez, mas ao mesmo tempo eu não conseguia uma vista limpa, as lágrimas embaçavam tudo, meu corpo não conseguia mais ficar em pé, porque a minha força tinha ido embora, eu tava sem meu apoio, eu tava sem o meu amigo, ele tava lá, mas não tava! Se eu pudesse ter o poder de Adam, eu daria alguns anos da minha vida pra ter ele mais tempo comigo, vivo, de pé novamente, sendo o mesmo Dani de sempre.

E agora, o que ficou foi um cenário incompleto. Um jogo de cartas sem um nipe. Uma bicicleta sem as rodinhas, que uma garotinha está sendo forçada a aprender a andar.

Hoje faz uma semana da última vez que a gente se viu. Da última vez que a gente saiu pra tomar um sorvete e passear na Taielet.
Amanhã vai fazer uma semana da última vez que eu recebi uma mensagem dele no meu celular, e da última vez que escutei a voz dele por telefone.

E assim o tempo continua passando, e sinto que vai me roubando as lembranças que eu tenho, que ontem eram mais fortes que hoje.
E cada dia que eu acordo, abro os olhos, e sou forçada a aceitar mais um pouco que o que eu vivi, não vou viver de novo.
E ao mesmo tempo, sinto que ele pode escutar tudo o que eu falo, ver tudo o que eu faço, e presenciar todas as minhas crises de choro.
Ver que minha expressão muda do nada, no meio de uma conversa, e eu viajo pra outro mundo, no qual ele fazia total diferença. E eu sinto falta dele vir me falar: "Vai, conta pra mim o que tem nessa cabecinha"

Eu ainda sinto ele aqui comigo. Ainda sinto um abraço forte quando me deito pra dormir. Ainda sinto a presença dele e imagino todas as piadas que ele faria em cada situação.
Na minha cabeça ainda escuto a voz dele, com aquele tom sério-engraçado falando "Sua palhaça"

Ele sempre me contrariava, quando eu dizia: "Querer não é poder." "Não senhora! Querer é poder sim! É só querer de verdade."

E no final, ele tava certo. Como quase sempre.
Porque o que eu mais quero, do fundo do meu coração, é ele do meu lado.
E por mais que eu não possa ver de novo os olhos dele, por mais que eu não possa mais ver o riso de canto de boca, que fazia a maçã do rosto dele ressaltar, por mais que eu não coma mais a comida natureba que ele fazia, e por mais que eu não possa mais fazer parte de um olhar de cúmplices, ele de fato está...

...aqui dentro. E mais perto que isso, só ele mesmo poderia conseguir.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O que faltou ser.

Noite cai
Então o que chegou?
Noite vai
Então o que sobrou do olhar seguro e das promessas que eu ouvi?
De amar, de ser um só, de nunca desistir?

Não me escondo do medo de não me reerguer do silêncio de uma vida sem você
De tudo que faltou ser

Noite cai
Por que não traz pra mim?
Noite vai
Não leva o que eu vivi
Enquanto, mesmo longe, eu te senti aqui
Enquanto a verdade soube conduzir

Se tudo que eu sou foi sempre seu...
E agora você levou tudo que eu sabia de mim
E agora?


(Ainda vazia.)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Paciência, definitivamente, é uma virtude.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Amor e perseguição (Martha Medeiros)






As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas”. Norman Mailer.

Copiem. Decorem. Aprendam.


Temos a mania de achar que amor é algo que se busca.
Buscamos o amor em bares, buscamos o amor na interner, buscamos o amor na parada de ônibus. Como num jogo de esconde-esconde, procuramos pelo amor que está oculto dentro das boates, nas salas de aula, nas platéias dos teatros.
Ele certamente está por ali, você quase pode sentir o seu cheiro, precisa apenas descobri-lo e agarrá-lo o mais rápido possível, pois só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade.

Amor não é medicamento.
Se você está deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproximará,e, caso o faça vai frustrar suas expectativas, porque o amor quer ser recebido com saúde e leveza,ele não suporta a idéia de ser ingerido de quatro em quatro horas, como antibiótico para combater as bactérias da solidão e da falta de auto-estima.
Você já ouviu muitas vezes alguém dizer:
Quando eu menos esperava, quando eu havia desistido de procurar, o amor apareceu”.
Claro, o amor não é bobo, quer ser bem tratado, por isso escolhe as pessoas que, antes de tudo, tratam bem de si mesmas.

As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas”. Normal Mailer.

Divulguem. Repitam. Convençam-se.

O amor, ao contrário do que se pensa, não tem que vir antes de tudo: antes de estabilizar a carreira profissional, antes de viajar pelo mundo, de curtir a vida.
Ele não é uma garantia de que, a partir do seu surgimento, tudo o mais dará certo.
Queremos o amor como pré-requisito para o sucesso nos outros setores, quando na verdade, o amor espera primeiro você ser feliz para só então surgir diante de você sem máscaras e sem fantasia.
É esta a condição. É pegar ou largar.
Para quem acha que isso é chantagem, arrisco sair em defesa do amor: ser feliz é uma exigência razoável e não é tarefa tão complicada.
Felizes aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se autoflagelam por causa dos erros que cometem.
Felicidade é serenidade.
Não tem nada a ver com piscinas, carros e muito menos com príncipes encantados.
O amor é o prêmio para quem relaxa.